Patologias em Revestimentos de Fachadas

A ocorrência de manifestações patológicas em revestimentos de fachada é algo que traz risco de morte aos transeuntes que passam ao largo do prédio. A necessidade de perícias periódicas, bem como da demanda por estudos laboratoriais para detectar a origem destes problemas. Este material funciona como um roteiro, e ele procura orientar futuras necessidades de profissionais sobre o assunto.

Parede externa com pastilha descolando do emboço

COMPOSIÇÃO DO SISTEMA DE REVESTIMENTO

a – Substrato ou base

É o componente de sustentação dos revestimentos, via de regra formado por elementos de alvenaria/estrutura.

b – Chapisco

Argamassa de preparo de base. Camada destinada a garantir maior ancoragem do emboço (ou massa única) à alvenaria/estrutura.

c – Argamassa de regularização

É a camada de transição, aplicada diretamente sobre a base, com a função de definir o plano vertical e dar sustentação à camada seguinte, o revestimento propriamente dito. No acabamento final pintura esta argamassa pode ser considerada como “massa única”, cumprindo concomitantemente a função de emboço e reboco. No acabamento final em revestimentos cerâmicos ou rochas ornamentais esta camada é definida como emboço.

d – Argamassa de assentamento do revestimento

Trata-se da argamassa de assentamento das peças. Normalmente, quando se aplicam peças de revestimento em fachadas, esta camada é formada por argamassas colantes.

e – Placa de revestimento

É o revestimento em si, podendo ser do tipo cerâmico ou em rochas ornamentais.

f – Juntas de movimentação

São juntas com posicionamento escalonado ao longo do revestimento cerâmico, que são aprofundadas desde a superfície até a base, preenchidas com materiais resilientes, e com a função de dividir o pano cerâmico extenso em panos menores e absorver as tensões geradas por movimentações da estrutura e dos panos cerâmicos que estas juntas delimitam.

g – Junta de assentamento

É a separação existente entre as peças, cuja função é a de absorver as tensões geradas pelas dilatações termo-higroscópicas sofridas pela peça cerâmica.

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NO REVESTIMENTO

As patologias registradas em revestimentos apresentam-se de diversas formas, e elas resultam na perda de função, isso é na impossibilidade de cumprimento das finalidades para os quais foram concebidos os materiais, notadamente no que se refere aos aspectos estéticos, de proteção e de isolamento.

Nos itens seguintes procuramos relacionar as ocorrências mais comuns registradas, em função dos levantamentos efetuados, especialmente no que se refere aos principais grupos patológicos selecionados, que correspondem à realidade presente no Brasil.

a – Descolamentos

a1 – Revestimentos de argamassa

Nas argamassas de cal a causa deste fenômeno está na presença de produtos não hidratados, na hidratação incompleta do cal, na má qualidade do produto ou no seu preparo inadequado.

Nas argamassas ricas em cimento ocorre a possibilidade de retração e descolamentos, sendo que, problemas desta natureza podem surgir também nas argamassas mistas, com excesso de aglomerante cimento.

A ocorrência desta patologia registra-se de três formas distintas: empolamento (destacamento do reboco com formação de bolhas), placas (ruptura do reboco e do emboço da alvenaria) e pulverulência (desagregação e esfarelamento da argamassa, que se torna friável).

a2 – Revestimentos cerâmicos

É a ocorrência mais frequente de reclamações que demandam perícias neste tipo de patologia, sendo as causas mais comuns a excessiva dilatação higroscópica do revestimento cerâmico, a inexistência de juntas de movimentação, falhas no assentamento das peças e deficiência ou, até mesmo, falta de rejuntamento.

Edifício que sofreu inspeção e outro com queda de pastilha na cobertura

A questão relativa à execução de juntas de movimentação horizontais ou verticais deve ser estudada na fase de projeto, objetivando o alívio das tensões geradas pelas movimentações da parede e do revestimento, devido à variação de temperatura ou deformação da estrutura (admitindo-se que a junta de assentamento absorve as tensões oriundas da dilatação higroscópica que a peça pode apresentar).

Trabalhos técnicos realizados no Brasil e em outros países recomendam regras para dimensionamento destas juntas, que são resumidas no quadro a seguir:

PaísExtensão máximaÁrea máximaLargura da junta
França6 metros32 m²
Estados Unidos5 metros12 mm
Austrália6 metros12 mm
Brasil* (NBR-8214)6 metros24 m²12 mm**
Brasil (NBR 13.755)3m p/ hor.
6m p/ vert
Dimensionamento de juntas de movimentação

* Referente à paredes externas; ** O dispositivo normativo prevê largura variável em função da extensão, que aqui foi calculada por 6 m

Para as juntas de assentamento, aquelas situadas entre as peças cerâmica, recomenda-se uma largura adequada, sendo esta dimensionada em função da resiliência da argamassa utilizada para o preenchimento da junta.

Cabe ainda analisar as patologias resultantes de deficiências de assentamento, especialmente no que se refere à configuração do tardoz (face posterior da peça), que pode apresentar uma superfície lisa, com reentrâncias ou em garras. Observa-se que garras poli-orientadas no tardoz se apresentam como elemento bastante favorável em cerâmicas para fachadas, uma vez que esta característica aumenta a resistência às tensões de cisalhamento a que as peças estarão submetidas.

ASSENTAMENTO DO REVESTIMENTO

Com relação à argamassa de assentamento, o mais comum é a utilização das argamassa colantes, sendo que, especificamente no caso de fachadas recomenda-se a tipo AC-II (também conhecidas como argamassa colantes flexíveis ou com adição polimérica). Estas argamassas requerem um tempo de espera mínimo à partir da mistura do produto com água (geralmente, da ordem de 15 minutos), sendo fundamental a observação do tempo em aberto, que corresponde ao intervalo de tempo em que a argamassa colante pode ficar estendida sobre o emboço sem que haja perda de seu poder adesivo.

Para as argamassas tipo AC-II o tempo em aberto deve ser de no mínimo 20 minutos, sendo que este pode ser verificado “in loco” durante o assentamento do revestimento cerâmico.

A verificação das seguintes situações indica tempo em aberto excedido :

i) observação de película esbranquiçada brilhante na superfície da argamassa;

ii) toque da argamassa colante com as pontas dos dedos e não ocorrência de sujeira nos mesmos e

iii) arrancamento de uma cerâmica recém assentada e a não verificação de grande impregnação da área do tardoz por argamassa colante.

É importante também que após sua mistura a argamassa seja totalmente utilizada num período inferior a 2 horas e 30 minutos. No assentamento de peças cerâmicas com dimensões superiores a 20 x 20 cm recomenda-se a aplicação da argamassa também em seu tardoz (além da já aplicada no emboço com a utilização da desempenadeira denteada metálica). O arraste da cerâmica proporcionando o rompimento dos cordões da argamassa colante e a posterior percussão eficiente da peça garantem maior estabilidade do assentamento, uma vez que aumenta a área colada.

O não respeito a estas recomendações podem estar diretamente relacionadas com patologias que têm sua origem na execução do revestimento.

b – Eflorescências É um fenômeno muito comum em fachadas com revestimento de peças cerâmicas ou rochas ornamentais, alterando a aparência da superfície devido a se manifestar, geralmente, através de

líquido esbranquiçado que escorre pelo revestimento podendo causar desagregação do revestimento e/ou falta de aderência entre camadas do revestimento.

A ocorrência desta patologia está ligada ao teor de sais solúveis existentes nos materiais componentes do revestimento, à presença de água e da pressão necessária para que o composto atinja a superfície.

c – Fissuras

As fissuras nos revestimentos podem estar associadas a sua incapacidade de absorver as movimentações da estrutura que reveste (oriundas de carregamentos diversos ou ação de vento), bem como a técnica executiva utilizada, características e dosagem dos materiais constituintes.

No caso das argamassas, o uso de elevado teor de finos, traços muito fortes (com alto teor de aglomerantes em relação aos agregados), elevada quantidade de água de amassamento e operações excessivas de alisamento do revestimento assentado podem favorecer o aparecimento de fissuras oriundas da retração hidráulica deste material cimentício.

Vale a pena citar fissuras originadas por deficiências ocorridas em etapas anteriores a da aplicação do revestimento, tais como: i) fissuras relacionadas ao cobrimento insuficiente do concreto (uma menor camada de cobrimento pode permitir a penetração de gases que podem reduzir o pH do concreto comprometendo a proteção química que este fornece ao aço e, como a oxidação deste último ocorre com significativo aumento de volume, estas tensões são transmitidas ao revestimento final) e ii) fissuras relativas à execução da alvenaria (fissuras que ocorrem na região de transição viga/alvenaria, também fissuras devido a reações expansivas da argamassa de assentamento dos elementos de alvenaria ocasionadas pela utilização de argilo-minerais expansivos, cal com elevado teor de óxidos não hidratados ou reações expansivas cimentos/sulfatos e ainda fissuras relacionadas à ausência ou mal dimensionamento de vergas e contra-vergas gerando concentrações de tensões nos cantos das janelas).

d – Vesículas

As vesículas (pontos estourados no revestimento) se manifestam através do empolamento da pintura podendo ser brancas (devido a hidratação retardada de óxidos de cálcio presentes nas argamassas com cal), pretas ou vermelho acastanhadas (associadas a má qualidade da areia, basicamente quando esta apresenta pirita, matéria orgânica ou concreções ferruginosas que, ao oxidarem, promovem reações expansivas).

e – Manchas

Normalmente provocadas pelas infiltrações de água, devido a sistemas de impermeabilização deficientes, as manchas podem se manifestar sob forma de eflorescências (discutidas anteriormente), bolor (manchas esverdeadas ou escuras, comuns em áreas não expostas à insolação) ou mudanças de tonalidade dos revestimentos. Frequentemente estão associadas aos descolamentos, à desagregação dos revestimentos e à má aderência entre camadas distintas de revestimentos.

Prédios com marcação de áreas com os defeitos ocultos de soltura de revestimento

ORIGEM DAS PATOLOGIAS EM REVESTIMENTOS

a – Congênitas

São aquelas originárias da fase de projeto, em função da não observância das Normas Técnicas, ou de erros e omissões dos profissionais, que resultam em falhas no detalhamento e concepção inadequada dos revestimentos. Causam em torno de 40 % das avarias registradas em edificações.

b – Construtivas

Sua origem está relacionada à fase de execução da obra, resultante do emprego de mão-de-obra despreparada, produtos não certificados e ausência de metodologia para assentamento das peças, o que, segundo pesquisas mundiais, são responsáveis por 25 % das anomalias em edificações.

c – Adquiridas

Ocorrem durante a vida útil dos revestimentos, sendo resultado da exposição ao meio em que se inserem, podendo ser naturais, decorrentes da agressividade do meio, ou decorrentes da ação humana, em função de manutenção inadequada ou realização de interferência incorreta nos revestimentos, danificando as camadas e desencadeando um processo patológico.

d – Acidentais

Caracterizadas pela ocorrência de algum fenômeno atípico, resultado de uma solicitação incomum, como a ação da chuva com ventos de intensidade superior ao normal, recalques e, até mesmo incêndios.

Sua ação provoca esforços de natureza imprevisível, especialmente na camada de base e sobre os rejuntes, quando não atinge até mesmo as peças, provocando movimentações que irão desencadear processos patológicos em cadeia.


Apresentado no X CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIASX COBREAP. Este material é reprodução parcial dos trabalhos feitos por Autores MAIA NETO, FRANCISCO e SILVA, ADRIANO DE PAULA e CARVALHO JR., ANTÔNIO NEVES

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